Autor:
JOILSON FERNANDES DE GOUVEIA**
A
sabedoria popular tem asseverado que “a justiça é cega” ou mesmo que “não existe justiça” e, também, que “só os ricos, que podem pagar
bons advogados, é que podem ter justiça e etc. e tal”. São ditos
laicos, mas que, de certa forma, resulta no “vox populi, vox dei”. Embora a voz do povo
seja a voz de Deus, como dito popular, ainda creio piamente num Estado
Democrático de Direito, mormente na nova ordem jurídica inaugurada em 05 de
outubro de 1988 com a Carta Cidadã, alcunhada por Ulisses.
Entrementes,
ainda que o povo seja sábio e que, por vezes ou mesmo no mais da vez, esteja
coberto de razões em suas assertivas e ditos populares, não se deve
generalizar e, até mesmo, pôr em vala comum todos os integrantes da
magistratura e os demais operadores do direito, que pertencem ou compõem o
judiciário ou a justiça, como se diz. De lembrar que, como dizia Nelson
Rodrigues, toda generalidade
é burra. E, apesar de a parte ser do todo não o representa, no
todo, apenas o integra, claro. Daí ser necessário sempre se separar o joio do
trigo.
Há,
pois, em qualquer categoria profissional, aqueles que se destacam por sua
conduta ilibada, honrada, honesta, ímpar e seu correto proceder com
responsabilidade, diligência e retidão de caráter, ainda que muitos outros
colegas de profissão quase ou nenhum desses atributos ou virtudes possa ter ou
se esforce para compreender.
Virtudes?
Virtudes sim, pois aquilo que deveria ser múnus, um dever, conforme a ética,
deontologicamente falando, de cada um desses servidores, mormente para com a
res publica passou a ser sinal de virtude ou, como se diz por aí, de loucura. A
loucura passou a ser sinônimo de honestidade ou, contrariamente, motivo de
vergonha, como previra Rui.
Aliás,
Dom Edvaldo G. Amaral – Arcebispo Metropolitano de Maceió, em seu recente
artigo publicado num matutino local, de 08.05.2001, intitulado por “Mau
Exemplo”, onde com profícua sabedoria e muita propriedade, cita e relembra a
Águia de Haia, a saber: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver
prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da
virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Essa foi a obra da
República nos últimos anos”. Isso dizia Ruy Barbosa no Senado da República,
em 17 de dezembro de 1912”. (sic.) – Destaquei.
Hoje,
constata-se, nada mudou. É triste, uma vergonha e desonroso ser cidadão honesto
ante tantos maus exemplos que gozam, literalmente, de imunidades (ou seria
impunidades?) E nos fazem a todos nós de palhaços? – Talvez, se o cidadão
honesto criar vergonha na cara de uma vez por todas, se unir e se abstiver em
usar sua única arma forte, seu Título Eleitoral, nas próximas eleições, uma
abstenção geral, ampla e irrestrita, para dar-lhes uma lição ética, moral,
histórica e mundial. Dizem que “há honestos e bons políticos, contudo, raro
encontrá-los”. Se os há, então, que expurguem os maus políticos, mormente aos “maus exemplos”. Caso contrário, retornem-se os
cassados e os que renunciaram, e já!
Filosofias
à parte, se tem dito que a “justiça é lenta, é morosa, é vagarosa, julga com vagar e é cega”,
mas não se tem dito, ainda, que ele é burra
ou (corrupta, exceptio raríssimos lalaus) que
cometa erros ostensiva e deliberadamente. E por quê? Ora, porque seus
integrantes são cultos, justos e doutos conhecedores do direito e,
principalmente, dos princípios que os rege e que, também, norteiam a justiça.
São homens quase que perfeitos (ainda que muitos se considerem perfeitos,
semi-deuses ou mesmos deuses), pois em sendo humanos, como tal, não se isentam
da falibilidade que é inerente à própria raça. Ou seja, não são imunes ou
invulneráveis às falhas, deslizes ou pequenos lapsos enquanto humanos, digamos
assim. Daí existir corregedorias e órgãos revisores, para que não se cometam
injustiças ou erros e, também, para lembrar-lhes dessa imunidade, que não é
plena e de que há princípios inamovíveis, inolvidáveis, inderrogáveis,
imutáveis ou de cerne pétreo.
Assim,
sem querer “ensinar padre-nosso a vigário”, há certos Princípios de Direito que
devem ser senão preservados ao menos respeitados e cumpridos, sob pena de
grassar erros crassos. Quais sejam: reserva legal, anterioridade,
retroatividade, irretroatividade, ultra-atividade, coisa julgada, ato jurídico
perfeito, direito adquirido, dentre tantos outros. Devendo-se destacar que a
lei nunca deverá retroagir in pejus.
Portanto,
aquilo que a lei considerara direito e não considerado na neo legis só perde
sua eficácia ex-nunc, i.e.,
do presente ao futuro, de sua edição para frente, nunca ex-tunc (do presente ao pretérito) haja
vista que a lei nova há de regular os fatos presentes e futuros, verbi gratia. É
elementar e curial.
Enfim,
se espera que os doutos operadores do direito, mormente os que sentenciam ou
decidem sobre direitos, deveres, interesses e obrigações do administrado, o
qual jamais poderá responder pela desídia ou incúria da Administração, nunca os
olvidem e, sempre, os preservem ad perpetuam, o que é melhor para todos dentro
do Estado Democrático de Direito, pena de despenhar da legalidade e da justa
imparcialidade.
Data maxime venia,
seria hilário se não fosse cruel, pois, pugnar por direito líquido e certo,
esperar mais de dois lustros por uma mera sentença que, se respeitado seu prazo
fatal, de há muito ter-se-ia decidido senão nos 90 ou 120 dias seguintes pós
petição, uma vez decidido aguardar um outro decênio ou mais, desde que inserido
no rol dos precatórios. Justiça tardia é injustiça, e, se contra legem, poderá denotar vindita ou ignorância (agnosia).
Maceió,
08 de maio de 2001.
*Editado
em O Jornal de então e reeditado agora véspera de completar 4 lustros!
**Servidor
público militar estadual no posto de TC PM e Bel em Direito pela UFAL.
Vide in
http://gouveiacel.blogspot.com.br/2012/01/dois-lustros-para-uma-mera-decisao.html
P.S.: é óbvio, claro e certo que não devemos
generalizar e pôr todos os políticos na mesma vala, esgoto e lixo; claro! Já
dissemos antes que até pode haver bons políticos sim, mas raríssimos encontrá-los! -