Joilson Gouveia* |
Fundado
na inolvidável, indubitável e insofismável obra Hayek, Friedrich A. von,
1899-1992: “Os erros fatais do socialismo”, é mister trazer a lume o
seguinte: a saber; “O substantivo ‘sociedade’, equívoco como é, torna-se
um tanto inócuo quando comparado ao adjetivo ‘social’, que passou a ser talvez a expressão que mais gera
confusões em todo nosso vocabulário moral e político”.
Nos
últimos cem anos, “período no qual seu
uso moderno, seu poder e sua influência logo se expandiram da Alemanha de
Bismarck para todo o globo”.
Diz-nos
mais o mestre Hayek, a saber:
·
“A confusão que ele difunde, no campo mesmo
em que é mais usado, deve-se em parte ao fato de definir não apenas fenômenos produzidos
por vários modos de cooperação entre os homens, como em uma ‘sociedade’, mas também os tipos de
ações que promovem essas ordens e as servem. A partir deste uso, ele se tornou
cada vez mais uma exortação, uma espécie de palavra de ordem para a moral
racionalista que pretende substituir a moral tradicional, e agora suplanta cada
vez mais a palavra ‘bom’ como designação do que é moralmente certo. Como
resultado desse caráter ‘distintamente dicotômico’, como diz com propriedade o Webster’s New Dictionary of Synonyms, o
sentido descritivo e o normativo da palavra ‘social’ sempre se alternam e o que parece, à primeira vista, uma descrição torna-se uma prescrição.
·
[...] Mas ‘ser social’, insiste Wiese, ‘não é o
mesmo que ser bom, nem justo aos olhos de Deus’ (1917) A alguns discípulos de
Wiese devemos instrutivos estudos históricos sobre a difusão do termo ‘social’ (ver referências em 1976:180).
·
A extraordinária
variedade de emprego da palavra ‘social’
nas línguas modernas desde então (...) todas as ocorrências da palavra ‘social’ gerando uma lista de cerca de
160 substantivos qualificados pelo adjetivo ‘social’:
·
Eis, pois, algumas das
160 - “ação; acordo; administração...democracia...
estabilidade...justiça...reforma... trabalho...valor... virtude e etc.” – vide p. 157/158.
O
autor destaca ainda mais, a saber:
·
“Muitas das combinações
aqui apresentadas são ainda mais usadas numa forma negativa ou crítica, ‘ajustamento social’ se torna ‘desajustamento social’ e o mesmo ocorre
com ‘desordem social’, ‘injustiça social’, ‘insegurança social’, ‘instabilidade social’ e assim por
diante”.
Bem
por isso, assesta o brilhante mestre:
·
“É difícil saber, com
base apenas nessa lista, se a palavra ‘social’
adquiriu tantos significados diferentes que acabou se tornando inútil como
instrumento de comunicação. Seja como for, seu efeito é bastante claro e no mínimo
triplo. Em primeiro lugar, ela tende viciosamente insinuar um conceito que nos
capítulos anteriores vimos ser equivocado – a saber, que aquilo que foi gerado
pelos processos impessoais e espontâneos da ordem ampliada é na verdade
resultado da criação humana deliberada. Em segundo lugar, em consequência
disso, a palavra apela às pessoas para que planejem melhor o que jamais
poderiam ter planejado. Em terceiro lugar, ela adquiriu ainda o poder de esvaziar
de significado os substantivos que qualifica.
·
Neste último efeito, ela
tornou-se o exemplo mais perigoso daquilo que, fazendo referência a Shakespeare
– ‘eu chupo melancolia de uma canção
como a doninha faz com ovos’ – [‘I can suck melncholy out of a song, as a weasel suck eggs’ (Do
jeito que você gosta, 11,5), tradução do verso de Carlos Alberto Nunes. (N.T.) -,
alguns americanos chamam de ‘palavra
doninha’ [Wease word]. Assim como a doninha seria supostamente capaz de esvaziar
um ovo sem deixar sinais visíveis, essas palavras esvaziam o conteúdo qualquer termo
que qualificam, deixando-o aparentemente intacto. Usam-se as palavras doninhas
para cortar as garras de um conceito que se é obrigado a empregar, mas do qual
se deseja eliminar todas as implicações que ameaçam as próprias premissas ideológicas”.
Encerrando
com iluminado autor Hayek:
·
“Similarmente, o termo ‘democracia’ costumava ter sentido
bastante claro; contudo ‘democracia social’
não só servia o radical austro-marxismo do período entreguerras como foi
escolhido agora na Grã-Bretanha para denominar um partido político comprometido
com uma espécie de socialismo fabiano. Entretanto, o termo tradicional usado
para expressar o que chamamos de ‘estado
social’ era ‘despotismo benevolente’
e o problema bastante real da aplicação deste despotismo de maneira democrática,
isto é, preservando a liberdade individual, simplesmente desaparece num passe
de mágica na mistura ‘democracia social’.
Ora,
olvida-se o escólio de David Hume: “O que
interessa à sociedade é a conduta, não a opinião: contanto que nossas ações
sejam justas e boas, não tem a menor importância para os outros que as nossas
opiniões estejam equivocadas”. – Apud Op. cit. In loco citato p. 212.
Enfim,
não é à toa que nossa pátria é chamada por eLLes, atuais espurcos progressistas, antes comunistas/socialistas, de
democracia-social ou social democracia ou estado democrático de direito, onde
estariam preservando a liberdade
individual [que alegam não ter existido no período do regime constitucional
militar de 1964 a 1985] mas sequer temos, na atual democracia social, a liberdade
de estar, ficar, ir e vir sem ser molestado, ameaçado ou assaltado, mormente
assassinado por meliantes tutelados por esse estado democrático social de
direito denominados de “excluídos
sociais” ou “vítimas sociais”
dessa civilizada “Sociedade Social”.
-
Liberdade ou autonomia não é, como a
origem das palavras talvez pareça sugerir, isenção de todas as restrições, mas
antes a aplicação mais efetiva de todas as restrições justas a todos os membros
da sociedade, sejam governantes ou súditos”. – Adam Ferguson.
-
“As regras de moralidade não são produto
de conclusões de nossa razão”. – David
Hume.
Abr
*JG
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