Joilson Gouveia* |
A
despeito da brilhante crônica “ÚNICO”, de nosso vetusto, provecto, proficiente
e dileto literata caetés e tupiniquim, urge trazer à baila alguns excertos de Mário Ferreira dos Santos, sobre a “razão”,
in Filosofa e Cosmovisão, a saber:
·
A comparação é o
primeiro movimento do nosso espírito para estruturar a razão, como se vê na
construção dos esquemas noéticos examinados no Tratado de Esquematologia. Conhecer é, na verdade, reconhecer;
conhece-se o que acreditamos já reconhecer. O conhecimento é um reconhecimento, porque exige uma
assimilação a esquemas já estruturados.
·
Conhecer racionalmente
é comparar, pois o conhecimento racional é conceitual. Se digo que este objeto
é livro, é porque o comparo ao conceito “livro” e verifico que vale para este
objeto a afirmação de ser livro.
·
Não é a razão contrária à vida como julgam alguns
irracionalistas. Tanto o homem
como os animais buscam o semelhante. Não haveria vida superior possível
sem a obediência a esse impulso vital (um verdadeiro instinto), que leva os
seres vivos superiores a comparar o semelhante ao semelhante.
·
A razão, como uma das
funções do espírito, distingue os elementos semelhantes e destes retira o que é
semelhante, deixando apenas o incognoscível, o inefável, o individual não
comparável, de que já falamos. É importante notar-se esse ponto: a razão
extrai do que é diferente o que ‘pode
ser’ semelhante, rejeita o que não é mais racionalmente cognoscível, por
não ser comparável.
·
Outro ponto: um objeto
absolutamente diferente, racionalmente incognoscível, isto é, não sujeito a um
conhecimento conceitual, quando se apresenta novamente à consciência, já não é
diferente, mas comparável ao que de si mesmo ficou na consciência (memória).
·
A consciência pode reconhecê-lo
e por isso, conhecê-lo racionalmente. Esta [é] a razão por que nos escapa muito
do que nos excita pela primeira vez.
·
A razão, função do
nosso espírito, não se contenta em reconhecer uma vez ou várias. Quer reconhecer
sempre. Aqui, intervém um princípio de economia de esforço, que é biológico. Se
cada vez que se apresentassem objetos novos fosse necessário recomeçar a
comparação para verificar se é semelhante a isto ou aquilo, a vida seria
complicada e difícil, e os resultados, nulos, porque teríamos de repetir o
mesmo processo. Essa economia de esforço, que já verificamos no procedimento seletivo
da própria vida, leva a razão a separar,
a isolar o semelhante que interessa,
única forma de torna-lo sempre recognoscível, comparável. Dessa forma, ele é elevado
à categoria de uma realidade independente, necessariamente imutável, idêntico a
si mesmo, pois, do contrário, falharia, por não permitir a comparação, e todo o
processo comparativo tornar-se-ia novamente moroso e, consequentemente,
cansativo, antieconômico e prejudicial.
·
Eis a abstração. E essa separação não se dá
concretamente no objeto, mas no espírito, como já estudamos. O contrário do
abstrato é o concreto. Mas concreto é o conjunto do semelhante ou o diferente
racionalizado, separado, isolado do concreto pela mente humana.
·
Assim, o semelhante é
elevado à categoria do imutável; damos-lhe uma existência independente, permanecendo
sempre igual a si mesmo – torna-se conceito.
Dessa forma, é possível a redução do desconhecido ao conhecido, e o conceito precede
à experiência. Esta decorre de uma síntese da intuição e do conceito, como já
vimos. É o conceito que modela a intuição e dá como resultado a experiência, reduzindo,
desse modo, o esforço intelectual. Por isso, o conceito vem de um longo
passado, e sua elaboração, que deve ter sido lenta e difícil, acabou por sar uma
nova função ao espirito humano, economizando suas forças.” *O conceito é
antecedido pelo anteconceito, que é uma singularidade que se generaliza, como é
estudado em Psicologia, na Noologia Geral e no Tratado de Esquematologia.
·
É o conceito a base de
toda linguagem, pois não haveria língua possível se déssemos um nome a cada
fato. A língua funciona com conceitos, e é a conceituação de uma língua que
demonstra a sua superioridade. Um povo primitivo, selvagem, tem uma
conceituação deficiente, como sucede com os indígenas.” (Sic.) Loco citato
in p.158/160.
Em
sendo assim e assim sendo, somos sujeitos semelhantemente indivíduos únicos
distintos dos demais semelhantes similares, símiles e singulares e cada qual
com sua individualidade própria e única e somente dele e de cada qual, daí nosso ceticismo e criticismo
ao coletivista amante da humanidade e salvador
do mundo, que prega uma incognoscível igualdade-igualitária
de seres semelhantes diversos, díspares, distintos e diferentes quando somos de
espécie e gênero desigual, dessemelhante e distinto ou único enquanto Ser.
Abr
*JG
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