Joilson Gouveia* |
Nada
obstante o adágio popular de que “Deus escreve certo por linhas-tortas”, muito conhecido
por essas plagas nordestinas, eis que traz-nos (sempre aos domingos) o nosso predileto
literata caetés e tupiniquim “Peninha”, em seu renomado Blog, alinhava “linhas” percucientes, pertinentes, contundentes
e inteligentes crônicas de um esmerado saber ou própria sabedoria mais que
culta senão filosófica que inculca à maioria de seus leitores e comentaristas
quando não se lhes impõem suas verves ideológicas coletivistas-igualitárias, no
mais da vez ou quase sempre, como o fez (e o faz) em suas muito bem traçadas,
tecidas, narradas e delineadas LINHAS
TORTAS in http://blog.tnh1.com.br/ricardomota/2017/04/23/em-linhas-tortas/,
às quais merecem, em face da dialética, senão um contraponto ao menos um
comparado, equilibrado e razoável balanço aos excertos de um outro texto a
seguir colacionado e intitulado de “A Escolha Fundamental”*, de Olavo de Carvalho, a saber:
·
“(...)
Para as modernas ideologias
revolucionárias, a vida individual não tem nenhum sentido e só adquire algum na
medida da sua participação na luta pela sociedade futura. É a consecução desse objetivo que servirá de medida para a avaliação dos atos individuais. Atingida
a meta, tudo o que tenha concorrido para ‘apressá-la’, mesmo o pecado, a
fraude, o crime e o genocídio, será resgatado na unidade do sentido final e
portanto considerado bom. O que contribua para ‘atrasá-la’ será mau. O mal e o bem resumem-se, em última análise, no ‘reacionário’ e no
progressista’. No entanto, como não há prazo predeterminado para o
desenlace salvador, o ‘apressar’ e o
‘atrasar’ têm sentidos ambíguos, que
alternam conforme as contradições do movimento histórico. Um déspota, um
tirano, o suprassumo do reacionarismo para seus contemporâneos, pode se tornar
retroativamente progressista caso se descubra que contribuiu, malgré lui, para acelerar um processo
que desconhecia por completo. Numa outra fase, o julgamento pode inverter-se, conforme
as novas interpretações de ‘atraso’ e ‘aceleração’ pertinentes no momento. Luís
XIV, Ivan, ‘o terrível’, Robespierre ou Stalin já passaram várias vezes do céu
para o inferno e vice-versa.”
Olavo
de Carvalho, diz-nos ainda o seguinte:
·
“Para o cristianismo,
o judaísmo, o islamismo e todas as tradições espirituais do mundo, cada vida
humana tem um propósito, um sentido, que permanece amplamente invisível às
pessoas em torno, que para o próprio indivíduo só se revela aos poucos, e
que só se esclarecerá por completo quando essa vida, uma vez encerrada, puder ser medida na escala da suprema perfeição, da suprema sabedoria,
da suprema santidade. Essa escala é essencialmente a mesma para todas
as épocas e lugares, e se torna conhecida pelos exemplos dos santos e profetas –
no cristianismo, o exemplo é do próprio Deus encarnado. O problema humano
fundamental é descobrir o meio de cada um se aproximar desse ideal unitário
através da variedade de suas expressões simbólicas e doutrinais, bem como das contradições
e mutações da vida mesma.
Há,
pois, como se pode perceber do acima transcrito, uma linha a seguir, um caminho,
um rumo ou um norte a conduzir o sujeito, indivíduo, pessoa ou ser humano, seja
pelo bem ou pelo mal, sendo bom ou mau, para o bem ou para o mal, conforme seus
princípios, valores e tradições ou modelos ou padrões de conduta. Diz-nos mais:
·
“Os modelos de conduta do homem espiritual
formam um panteão estável, um patrimônio civilizacional adquirido, onde cada indivíduo
pode buscar a inspiração que o habilite a agir bem, independentemente das
convicções reinantes na sua época e no seu meio, ao passo que os modelos do revolucionário
são entidades móveis que nada valem sem a aprovação do consenso contemporâneo.
Joana D’Arc e Francisco de Assis puderam ser santos contra a autoridade
coletiva. Mas ninguém pode fazer revolução contra o consenso revolucionário.
·
Na perspectiva
espiritual, a meta da existência é cada um buscar sua perfeição na vida de
agora, fazendo o bem a pessoas de carne e osso que podem lhe responder e
julgá-lo, dizendo se foi um bem de verdade ou um falso bem que só lhes trouxe o
mal. Na ótica revolucionária, o que importa é ‘transformar o mundo’ e beneficiar
as gerações futuras, pouco importando o mal que isto custe à geração atual. O
destinatário do bem está portanto ausente e não pode julgá-lo, exceto através
de seus autonomeados representantes, que são precisamente aqueles mesmos
autonomeados benfeitores.” (Sic.)
·
Na visão tradicional,
os exemplos de perfeição são muitos e sua conduta está meticulosamente registrada
nos livros sacros e nos depoimentos dos crentes. Já a sociedade perfeita nunca existiu e o único modelo à
nossa disposição é uma hipótese futura, cuja descrição idealizada é em geral muito vaga e alegórica, quando
não completamente evasiva.” (Sic.)
·
(...)
Por isto os profetas judeus são modelos
de perfeição para os cristãos, os sábios hindus para os muçulmanos, e assim por
diante. Já na esfera revolucionária, quanto mais um homem encarne
a sua própria ideologia com perfeição, como Lenin e Stalin, Hitler e Mussolini,
tanto mais ele
se torna odioso e abominável aos seguidores de outros partidos. No
máximo pode haver entre eles a mútua admiração invejosa de quem desejaria apropriar-se
dos talentos do inimigo para mais facilmente poder destruí-lo. Não há virtude fora
da fidelidade partidária.”
Com
efeito, urge ao homem buscar seguir às virtudes essenciais, aos princípios e
aos valores axiológicos fundados na ética e na moral de suas tradições
espirituais condutoras de seus destino; claro!
·
“As virtudes do homem espiritual são explícitas e
definidas, têm um conteúdo conceitual identificável: piedade, generosidade,
sinceridade, etc. As do revolucionário são ocasionais, utilitárias e
instrumentais. Na terminologia de Max Scheler, a ética do religioso é ‘material’,
visa a condutas e atos específicos; a do revolucionário é ‘formal’, reduz-se a
uma equação genérica de fins e meios. Por isso o homem espiritual, conhecendo o
conceito da conduta certa, pode se guiar a si mesmo, fazendo o bem de acordo
com a sua consciência sem ter de seguir ninguém. Já o revolucionário só pode estar
na conduta certa quando age de acordo com a ‘linha justa’ do movimento revolucionário tal como esta é formulada,
a cada etapa, pela liderança e pelas assembleias. A possibilidade de conduta
independente é aí nula e autocontraditória.
·
Não existe a mínima
possibilidade de acordo entre as éticas das grandes tradições espirituais e a
mentalidade revolucionária de qualquer espécie que seja. Um dia cada homem terá
de escolher. Aqueles que escamoteiam a fatalidade inescapável dessa escolha,
buscando embelezar ideologias revolucionárias com frases copiadas das tradições
espirituais, fazem isso porque, na verdade, já escolheram. Como dizia Simone
Weil, estar no inferno é imaginar, por engano, estar no céu.”
Há,
pois, em cada um de nós, enquanto indivíduo, uma incessante busca ao devir (vir a ser) cujo caminho ou destino se
biparte ou bifurca na permanente escolha entre o bem e o mal, tal e qual a
sábia lição do velho cacique Sioux ao seu netinho sobre eterna lide dos dois
lobos (um do bem e um do mal) que habitam em nós, quando perguntado por seu
netinho: “quem vencerá essa luta, vovô?”
-
“aquele que o alimentares”!
Abr
*JG
P.S.: * Ver mais in “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, p. 135/137, de Olavo de Carvalho.
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